Buprenorfina

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De Sector Salud

A buprenorfina é um medicamento opioide semissintético derivado da tebaína, um alcaloide presente no ópio. Ela pertence à classe dos opioides agonistas parciais, o que significa que tem a capacidade de se ligar aos receptores opioides no cérebro, mas sua ativação é menos intensa em comparação a outros opioides, como a morfina ou a heroína.

Ela é usada principalmente no tratamento de dores moderadas a intensas e também no manejo da dependência de opioides, uma vez que ajuda a reduzir sintomas de abstinência sem produzir os efeitos eufóricos intensos de opioides mais potentes.

A buprenorfina tem duas principais indicações:

  1. Tratamento da dor: É utilizada para tratar dores moderadas a intensas, especialmente quando outros analgésicos não são eficazes. Devido à sua longa duração de ação e ao menor risco de dependência em comparação com opioides de ação plena, é indicada para pacientes com dores crônicas, como dor oncológica ou dores neuropáticas.
  2. Tratamento da dependência de opioides: A buprenorfina é amplamente utilizada no manejo da dependência de opioides, incluindo heroína e analgésicos opioides prescritos. Ela ajuda a reduzir os sintomas de abstinência e os desejos, sem causar uma euforia intensa, tornando-se uma opção eficaz para manter a estabilidade em pacientes dependentes. Frequentemente, é combinada com a naloxona (em formulações sublinguais) para prevenir o uso indevido.

Mecanismo de Ação da Buprenorfina

A buprenorfina atua como um agonista parcial dos receptores opioides µ (mu) no sistema nervoso central. Isso significa que ela se liga a esses receptores e ativa-os, mas de forma mais limitada em comparação aos agonistas opioides plenos, como a morfina ou a heroína. Como resultado, a buprenorfina proporciona alívio da dor e reduz sintomas de abstinência, mas com um menor risco de euforia, depressão respiratória e dependência grave.

Além de ser um agonista parcial dos receptores µ, a buprenorfina também age como:

  • Antagonista dos receptores κ (kappa): Esta ação contribui para reduzir a sensação de disforia e alguns outros efeitos adversos comuns em outros opioides, como a morfina.

Por ser um agonista parcial, a buprenorfina tem um efeito teto: após um certo ponto, aumentar a dose não resulta em um efeito maior, o que reduz o risco de superdosagem, principalmente em comparação com opioides plenos.

Farmacocinética (Absorção, distribuição, metabolismo e eliminação)

A farmacocinética da buprenorfina envolve seu comportamento em termos de absorção, distribuição, metabolismo e excreção:

  • Absorção: A buprenorfina pode ser administrada por várias vias, incluindo sublingual, transdérmica (adesivos) e injeção. Por via sublingual, a absorção é relativamente lenta, mas eficaz. A biodisponibilidade sublingual varia entre 15% e 30%. Quando administrada por via transdérmica (adesivos), a absorção é contínua e sustentada ao longo de vários dias.
  • Distribuição: Após ser absorvida, a buprenorfina tem uma alta ligação às proteínas plasmáticas (cerca de 96%), principalmente à albumina. Ela se distribui rapidamente nos tecidos, principalmente no cérebro, onde exerce seus efeitos.
  • Metabolismo: A buprenorfina é metabolizada principalmente no fígado pelo sistema enzimático do citocromo P450, especialmente pela isoenzima CYP3A4. Seu principal metabólito é a norbuprenorfina, que tem alguma atividade, mas é muito menos potente que a buprenorfina. O metabolismo também ocorre em menor grau por glicuronidação.
  • Excreção: A eliminação da buprenorfina é feita principalmente pelas fezes (cerca de 70%) e em menor proporção pela urina (cerca de 30%). A meia-vida de eliminação varia de 24 a 48 horas, o que contribui para sua longa duração de ação e permite intervalos mais longos entre doses, especialmente no tratamento da dependência de opioides.

indicações terapêuticas da Buprenorfina

buprenorfina é indicada para diversas condições médicas, especialmente relacionadas ao tratamento da dor e da dependência de opioides:

  1. Tratamento da dor:
    • Dor moderada a severa: É indicada para o manejo da dor aguda e crônica, especialmente em casos de dor severa onde opioides mais fracos não são eficazes.
    • Dor oncológica: Devido à sua longa duração de ação e menor risco de dependência severa, é amplamente usada em pacientes com câncer.
    • Dor crônica: Utilizada em pacientes com dores persistentes, como dor neuropática e doenças degenerativas, fornecendo alívio contínuo sem os picos de euforia observados com outros opioides.
  2. Tratamento da dependência de opioides:
    • Dependência de heroína e opioides prescritos: A buprenorfina, sozinha ou em combinação com naloxona, é amplamente utilizada como parte de programas de substituição opioide. Ela ajuda a estabilizar pacientes ao reduzir os sintomas de abstinência e os desejos, sem os efeitos colaterais eufóricos dos opioides mais fortes.
    • Manutenção e descontinuação gradual: É usada tanto para a manutenção a longo prazo, controlando a dependência, quanto para o processo de desintoxicação, ajudando na redução gradual do uso de opioides.

Apresentações da Buprenorfina

A buprenorfina está disponível em várias formas farmacêuticas, adequadas para diferentes indicações terapêuticas:

  1. Comprimidos sublinguais:
    • São usados principalmente no tratamento da dependência de opioides. A absorção sublingual evita o metabolismo de primeira passagem no fígado, melhorando sua eficácia.
    • Doses comuns: 0,4 mg, 2 mg e 8 mg (geralmente em combinação com naloxona).
  2. Adesivos transdérmicos:
    • Utilizados principalmente para controle de dor crônica. O adesivo libera buprenorfina lentamente através da pele por um período de até 7 dias.
    • Doses comuns: 5 mcg/h, 10 mcg/h, 20 mcg/h.
  3. Injetável (solução):
    • Usada em contextos hospitalares para o controle da dor aguda severa, como dor pós-operatória ou traumas graves.
    • Geralmente disponível em doses de 0,3 mg/mL para administração intravenosa ou intramuscular.
  4. Filmes sublinguais ou bucais:
    • Semelhantes aos comprimidos sublinguais, mas em forma de filmes que se dissolvem sob a língua ou na mucosa da bochecha.
    • Disponíveis em concentrações de 2 mg e 8 mg (com ou sem naloxona).
  5. Implantes subcutâneos:
    • Implantes de liberação prolongada que fornecem buprenorfina de forma constante por até 6 meses, usados para o tratamento da dependência de opioides.
    • Contêm cerca de 80 mg de buprenorfina por implante.

Nomes comerciais da Buprenorfina

A buprenorfina é comercializada sob diferentes nomes, dependendo da formulação e do país. Alguns dos nomes mais comuns incluem:

  1. Para o tratamento da dor:
    • Temgesic: Comprimidos sublinguais ou injetáveis, usados para o alívio da dor moderada a severa.
    • Butrans: Adesivos transdérmicos usados para o tratamento da dor crônica de intensidade moderada a severa.
    • Bupranal: Solução injetável usada em contextos hospitalares para dor aguda.
  2. Para o tratamento da dependência de opioides:
    • Subutex: Comprimidos sublinguais contendo buprenorfina, usados para o tratamento da dependência de opioides.
    • Suboxone: Comprimidos ou filmes sublinguais que combinam buprenorfina com naloxona, para evitar o uso indevido (como a injeção do comprimido dissolvido).
    • Probuphine: Implantes subcutâneos de liberação prolongada, usados para manter a abstinência em pacientes dependentes de opioides.

Esses nomes são amplamente utilizados em diferentes países, garantindo a disponibilidade da buprenorfina tanto no manejo da dor quanto na dependência de opioides.

Efeitos colaterais comuns e adversos

A buprenorfina, como qualquer medicamento, pode causar efeitos colaterais. Alguns são mais comuns e leves, enquanto outros podem ser mais graves. Aqui estão os principais:

Efeitos colaterais comuns:

  1. Náuseas e vômitos: São efeitos frequentes, especialmente no início do tratamento.
  2. Constipação: O uso de opioides frequentemente causa constipação, que pode ser um problema significativo.
  3. Sonolência ou sedação: A buprenorfina pode causar sonolência, especialmente quando iniciada ou aumentada a dose.
  4. Tontura: Sensação de vertigem, que pode ocorrer ao se levantar rapidamente.
  5. Suor excessivo: Algumas pessoas relatam aumento da sudorese.
  6. Boca seca: Pode ocorrer em alguns pacientes.

Efeitos colaterais adversos:

  1. Depressão respiratória: Um efeito potencialmente grave, especialmente em doses elevadas ou em combinação com outros depressores do sistema nervoso central, como álcool ou benzodiazepínicos.
  2. Reações alérgicas: Embora raras, podem ocorrer reações alérgicas graves, incluindo anafilaxia.
  3. Desconforto abdominal: Pode incluir dor abdominal ou cólicas.
  4. Alterações de humor: Alguns pacientes podem experimentar alterações de humor, como depressão ou ansiedade.
  5. Dependência e síndrome de abstinência: Embora a buprenorfina tenha um menor potencial de abuso do que opioides plenos, a dependência ainda é uma possibilidade, e a interrupção abrupta pode causar sintomas de abstinência.

A monitorização e a consulta com um profissional de saúde são importantes para gerenciar quaisquer efeitos colaterais e ajustar a dose conforme necessário.

Contraindicações

A buprenorfina possui algumas contraindicações que devem ser consideradas antes de seu uso:

  1. Hipersensibilidade: Contraindicada em pacientes com alergia conhecida à buprenorfina ou a qualquer componente da formulação.
  2. Insuficiência respiratória grave: Pacientes com problemas respiratórios graves, como asma grave ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), devem evitar o uso, pois a buprenorfina pode causar depressão respiratória.
  3. Uso concomitante com outros depressivos do sistema nervoso central: O uso de buprenorfina em combinação com outros depressores, como álcool, benzodiazepínicos ou outros opioides, aumenta o risco de depressão respiratória e morte.
  4. Crianças pequenas: A buprenorfina não é geralmente recomendada para crianças menores de 16 anos devido ao risco de efeitos adversos graves.
  5. Condições médicas que afetam a metabolização: Pacientes com problemas hepáticos severos podem ter dificuldades na metabolização da buprenorfina, o que pode aumentar o risco de efeitos colaterais.
  6. Uso em pacientes com síndrome de apneia do sono: Pacientes com essa condição devem ser monitorados de perto, pois a buprenorfina pode agravar a apneia do sono.

Essas contraindicações são importantes para garantir a segurança do paciente e evitar complicações. Sempre é recomendado discutir o histórico médico completo com um profissional de saúde antes de iniciar o tratamento.


Tabela de analgésicos

Acido acetilsalicílicoMetamizol Sodico
BuprenorfinaDipirona
CapsaicinaMorfina
Clonixinato de lisinaNalbufina
DexmedetomidinaOxicodona
DextropropoxifenoParacetamol
FentanilTramadol
EtofenamatoCloridrato de Tramadol
IbuprofenoHidromorfona
CetorolacoMetadona
Trometamol CetorolacoTapentadol